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Na terça-feira, quando tinha acabado de terminar minha prática de ioga, o despertador tocou. Surpresa, vi que era um alarme acionado por mim mesma, um ano atrás, me lembrando de que chegara o dia de ler uma carta.
Não me lembro se essa carta foi escrita com o propósito de manifestação ou se eu apenas queria um alívio num presente confuso e o encontrei pensando sobre como o futuro seria bem melhor.
Bem, a Larissa de um ano atrás tinha razão, aqui está melhor, mas não foi exatamente do jeito que ela pensou — ou manifestou — que seria. E me surpreendi ao ler a carta e, em vez de ficar frustrada, decepcionada ou triste por ainda não ter feito ou recebido a maioria das coisas que ela disse que eu já teria até aqui, me senti bem ao pensar que um ano é um período de curto prazo pra tanta coisa e, bem, mesmo não tendo conseguido o que estava listado na carta, consegui sentir genuínas felicidade e paz com tudo o que fiz e em quanto evoluí em apenas um ano.
Eis por que isso é surpreendente: eu fui uma pessoa impaciente a minha vida inteira e sempre pensei muito, ansiando pelo próximo passo, pelo próximo degrau, pela próxima escada, pela próxima montanha, pelo próximo resultado, pela próxima conquista, pelo próximo final de semana, pelo próximo Natal, pelo próximo ano.
A maioria de nós é assim, não é? Mas isso não me conforta. Porque é angustiante demais estar o tempo todo no futuro. Nosso corpo sabe disso, é por isso que ele só vive no aqui e no agora — mesmo que a gente quase nunca tenha essa consciência.
Enquanto isso, nossa mente é uma máquina do tempo capaz de viajar para o passado, para o futuro, para mundos e situações que não existem, nunca existiram e nunca existirão. E a maior parte do tempo estamos vivendo dentro dessa máquina. Não estou falando que sempre é ruim pensarmos nessas coisas. A capacidade de viajar para o passado através das minhas memórias e a de visitar mundos e pessoas que não existem na realidade material através da minha imaginação são o que me possibilitam ser uma escritora. Mas é ruim sempre estar pensando nessas coisas em vez de estar experienciando o momento.
Claro, pensar no futuro é importante. A gente precisa planejar o futuro, fantasiar, criar expectativas. Desde que de maneira saudável. Precisamos disso para manter o tesão, a animação e a curiosidade pela vida (pelo menos a maioria de nós precisa).
A grande questão é não se agarrar demais aos resultados. Estar aberta a mudanças na rota ou a aceitar outras coisas que a Vida, Deus ou o Universo (de acordo com o que você acredita) preferem te entregar no momento. É aprender a, invés de olhar para o degrau de cima lamentando o que ainda se falta alcançar, olhar para o de baixo e refletir sobre o que já se conquistou.
Nem sempre será fácil, fomos condicionados a vida toda a pensar em qual a próxima coisa a alcançar para chegar cada vez mais perto do sucesso. E a ansiar pelo resultado e só ser feliz quando o conquistar (quando publicar um livro, quando encontrar o amor da minha vida, quando ficar rica, etc.). E para que a felicidade chegue logo, estabelecemos metas irreais de produtividade. E ficamos tristes, decepcionados e com baixa autoestima quando não conseguimos realizar tudo o que está na nossa interminável lista de tarefas.
Mas na terça-feira, por algum motivo, não me senti assim. Não fiquei triste ou frustrada comigo mesma por ainda não ter feito ou recebido as coisas que estavam listadas na carta. Um ano é pouco tempo pra tanta coisa, eu estava sendo irreal, iludida. E tudo bem também se iludir às vezes, mas é bom tomar cuidado para não deixar que as coisas que ainda não conseguiu fazer ou que ainda não conquistou não ditem seu valor. E isso também vale para as coisas que já se fez ou conquistou.
É importante saber o que queremos, mas, mais importante ainda é aproveitar o processo, gostar dele, se divertir com ele e desapegar dos resultados. Fazer o seu melhor porque você gosta do que está fazendo — pelo menos da maior parte.
Entretanto, em alguns momentos podemos nos dar o luxo de apenas ser, existir. E de viver apenas no dia de hoje. Temos a vida toda para fazer as coisas. Podemos nos permitir a tirar uns dias para não fazer nada. Podemos apreciar a vista de vez em quando.
O que nos leva mesmo a algum lugar é a constância, não a afobação. Dar pequenos passos (quase) todos os dias. Ou engatinhar, quando caminhar estiver difícil. E aprender a descansar sem culpa para recuperar a energia.
E só de conseguir enxergar e ficar bem com isso, eu já acho que foi uma baita evolução para apenas um ano.
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Amei o texto, muito necessário! Até respeitei aliviada depois de ler 🩷