Acho que todo leitor tem um carinho especial pelo livro que lhe mostrou uma curva em direção ao caminho para onde a literatura é capaz de nos levar.
Eu tinha 14 anos quando li o primeiro romance da minha vida — e aqui romance não significa história de amor (embora de alguma forma ele também o seja), mas, sim, narrativa ficcional longa, com vários personagens e conflitos, etc.
Estava na 8ª série (hoje, 9º ano, talvez?) e o governo começou a nos dar livros. A minha turma recebeu uma caixinha que continha ‘Olhai os lírios do campo’, do Erico Verissimo, um livro de contos do Machado de Assis e um de poemas do Castro Alves — cada livro pertencente a um dos três principais gêneros literários, embora na época eu não desse atenção a essas diferenças.
Gostei do título do romance (Olhai os lírios do campo é até hoje um dos melhores títulos de livros para mim) e me lembro que iniciei a leitura rapidamente, sem nem mesmo saber a sinopse.
Eu já tinha lido outros livros, claro. Quando criança tive contato com livros de contos de fadas que minha mãe me deu, alguns livros infantis da pequena biblioteca da escola e gibis da Turma da Mônica.
Mas a obra de Erico Verissimo era diferente de tudo o que eu tinha lido até então. Era um livro longo (pelo menos para a Larissa daquela época), com personagens complexos, tinha uma intriga, um enredo instigante e intenso (especialmente na primeira parte).
Era um “livro para adultos”.
A experiência da leitura despertou em mim a vontade de ler mais. Eu tinha adentrado um novo mundo e estava sedenta para descobrir outros. Desejava conhecer outras realidades e saber o que mais um livro poderia me fazer sentir e descobrir sobre mim mesma.
Estava fisgada. A partir daí me apaixonei pelos livros e li tanto quanto podia. Me transformei numa leitora, algo que, com certeza, se você me conhece, é uma das primeiras coisas que é capaz de dizer sobre minha personalidade, caso alguém te pergunte.
— Ah, a Larissa, ela gosta de ler.
“Olha as estrelas. Enquanto elas brilharem haverá esperança na vida”.
Meu trecho favorito de Olhai os lírios do campo.
É provável que se eu lesse Olhai os lírios do campo hoje eu não gostasse tanto assim (talvez nem mesmo gostasse, para ser sincera).
Porém, de todos os livros que me pertencem, este exemplar entra na lista dos que mais tenho apreço. Mesmo com manchas amareladas nas páginas brancas e com a capa meio amassada.
Sem ele, provavelmente, não existiriam os outros.
Vamos começar uma conversa:
Qual livro te transformou num leitor?
Foi um livro de contos dos Grimm que tenho até hoje. Eu tinha apenas uns seis ou sete anos e aquele livro com poucas ilustrações macabras de cores sóbrias e longos parágrafos com a versão pouco açucarada das histórias me pegou pelo coração.
Eu senti receio, empolgação e um prazer imensurável de ler aquelas histórias.
Tive uma experiência um pouco diferente... eu era muito criança e, talvez, por ser muito concentrada e introspectiva, a biblioteca era um ambiente que eu amava. A impressão que tenho era que eu gostava demais do silêncio e do recolhimento que o lugar propiciava. Enfim, ali eu tinha paz. Os livros foram consequência dessa paz... mas, para fazer jus a um livro que me marcou muito, eu tinha uns 10 ou 11 anos quando li: Anarquistas Graças a Deus da Zelia Gatai. E felizmente, como era impossível alguém fazer uma leitura prévia de tudo que eu lia, nunca sofri censura de nenhum tipo e sigo assim. Até hoje tenho uma queda por bibliotecas e locais de leitura.