#04 – Por que gostamos tanto de histórias?
E por que eu escolhi a literatura como carreira
Você pode até não gostar de contar ou escrever histórias, mas, com certeza, gosta de ouvir, ler ou assistir. Contamos histórias uns para os outros desde as civilizações mais remotas e somos o único animal que faz isso. Essa característica é tão importante, que cientistas afirmam que além de homo sapiens podemos ser chamados de homo narrans.
Contar histórias é o motivo de termos chegado até os dias de hoje. As narrativas são fundamentais para nos fazer acreditar mais ou menos nas mesmas coisas e assim nos unir em uma sociedade e preservar nossa espécie. Pense no Brasil: somos mais de 200 milhões de pessoas que, mesmo espalhadas por um território gigantesco, possuímos crenças muito parecidas sobre a vida e sobre o mundo.
Deixando um pouco de lado a importância para nossa evolução, quais outros motivos nos fazem gostar tanto de histórias? Puxando sardinha para a literatura, porque eu sou uma escritora (mas sem desmerecer outros tipos de narrativas, claro), F. Scott Fitzgerald nos oferece uma das melhores explicações que já li por aí:
“Isso faz parte da beleza de toda literatura. Você descobre que seus anseios são universais, que você não está sozinho ou isolado de ninguém. Você pertence”.
Pertencemos à que? À condição humana.
Toda história traz uma verdade universal sobre o que é ser um ser humano. Assim, por mais que nossas personalidades e caráter possam ser (muito) diferentes, todos nós conhecemos de uma forma ou de outra as alegrias, aflições e dúvidas comuns à existência humana.
É por isso que, mesmo com enredos completamente diferentes, os temas das histórias se repetem: amor (todos nós sabemos o que é amar alguém e conhecemos de algum modo os anseios que isso traz), o desejo de vingança, luxúria, culpa, medo, luto, morte.
E isso é magnífico, pois dentro de uma mesma temática é possível construir histórias completamente diferentes, que vão agradar mais (ou menos) um determinado grupo de pessoas.
Diga para mim se uma das melhores sensações na vida não é quando você está lendo um livro e se depara com algum anseio que parecia só seu? Mas ele está lá, numa página, dito ou pensado pelo personagem (e consequentemente pelo autor, que lembremos, é ou foi uma pessoa de verdade). Talvez tenha sido escrito há muitos séculos e ainda assim ressoa no seu coração e você se sente compreendido, conectado, pertencente.
Pra mim (e provavelmente para quase todos os seres humanos), o sentido da vida é se conectar com as outras pessoas, com os animais, com a natureza e com tudo o que faz parte deste planeta incrível que chamamos de lar. Somos seres sociais e interdependentes, ou seja, ao mesmo tempo que cada um de nós é um indivíduo único, estamos todos conectados, cada um sendo uma peça na engrenagem do Universo neste espaço-tempo que compartilhamos.
Mas só saber que somos conectados não basta. Não somos apenas racionais (embora tenha gente que goste de pensar que sim). Nós temos que sentir essa conexão. Temos que sentir, e não só saber, que outras pessoas possuem as mesmas dúvidas e anseios que nós sobre a existência humana.
Sendo uma arte, a literatura se apresenta a nós como uma das melhores maneiras de provocar sentimentos. Todo mundo que abre um livro de ficção espera sentir alguma coisa. E é por isso que escolhi ser uma criadora de histórias.
Quero criar experiências emocionais para os leitores, enquanto expresso minha criatividade e me divirto no processo. Quero me conectar aos outros desse modo único que só a literatura permite, através da intimidade que só existe no encontro do autor e do leitor por meio de um livro.
Ao ler essa News, pude ouvir a sua voz enquanto percorria o texto. Sei o quanto isso é tão seu e suas histórias são fascinantes, até porquê, você é uma ótimo contadora de histórias! ✨
E eu quero ler todas que você quiser contar, Larissa. Que venham mais.